Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas.
Um povo em catalepsia ambulante,
não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo,
enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua
inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro
em silêncio escuro de lagoa morta.
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não
descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter,
havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em
pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da
mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política
portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos,
absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de
quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação
unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer
dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo
ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras,
idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não
se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de
não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar.------------------------------------------------------------------
Acordem que já é mais que tempo, a única resposta possível sem violência ....... é a abstenção.
Se houver 90 % de abstenção eles não tem onde se esconder.
Abraços.
Ramiro Lopes Andrade
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